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Artigo
Como ajudar a criança a lidar com as mudanças de casa, escola, cidade…


Você se lembra do frio na barriga quando mudou de emprego e precisou encarar novos projetos? Pois bem. Mudanças sempre mexem com a gente, não seria diferente com os nossos filhos. Eles se apegam aos ambientes que frequentam, às pessoas com as quais convivem e, quando tudo isso se modifica, ficam apreensivos. “A criança se acostuma com a rotina, que é confortável e a base dela para enfrentar outros desafios. Com uma mudança, ela pode perder esse chão”, diz a médica Liubiana Arantes de Araújo, presidente do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Porém, isso varia de criança para criança e, em especial, de acordo com a idade. Por volta dos 7 anos, elas geralmente conseguem compreender melhor a nova realidade – antes disso é mais difícil, e cada uma vai liberar sua angústia de uma maneira: seja na birra, na irritação ou na falta de apetite. Inspire-se nas histórias de quem já viveu momentos de transição e lidou com isso. Mas tenha em mente: a maneira como os pais enfrentam a nova rotina vai fazer toda a diferença para a criança. Fique firme. O melhor está por vir!

Quando acontece uma mudança de casa, a criança pode ter diversos tipos de reação. Miguel, hoje com 7 anos, mudou-se quando tinha 3. Ele e a família foram de um apartamento em um condomínio, com parquinho e amigos, para uma casa. “Ele sentiu muita falta da rotina que tinha, de descer para brincar todos os dias”, lembra a geógrafa Andreia Assis, 34, mãe do menino. Na casa, ele passou a ter medos que não tinha antes, como de escuro e de insetos. “Também não aceitava ficar sozinho em lugar nenhum do novo lar”, lembra. Andreia conversou com o filho e o levava uma vez por semana ao condomínio onde moravam, para rever os amigos e brincar.

Além do diálogo, como Andreia fez, outras atitudes ajudam a criança a encarar a casa nova de forma positiva. Explique os motivos da mudança e não desmereça o sentimento dele – diga que vocês vão sentir falta, sim, mas que assim como têm boas lembranças de onde moram, irão construir memórias felizes para onde vão. Feito isso, deixe que ele participe dos preparativos: inclua-o na organização, deixe que ele escolha como quer o quarto e onde vai guardar os brinquedos, pintem juntos um quadro para decorar a parede. Tudo isso fará com que ele se sinta em casa depois.

Em um país distante

Aqui, a situação pode apertar! Afinal, tudo é novidade. Fatores como a barreira do idioma, além da saudade dos que ficam, podem dificultar um pouco – mas não é impossível! Como é algo de grandes proporções, inicie a preparação antes, para que dê tempo de organizar encontros de despedida, realizar pesquisas na internet sobre o local, seus costumes e curiosidades e, se a criança for um pouco maior, matriculá-la em aulas particulares do novo idioma. Mas não se desespere: muitas vezes, as crianças nos surpreendem e lidam muito bem com essas mudanças.

Que o diga a jornalista Daniela Torres, 38, mãe de Isabella, 9, Gabriela, 7, e Julianna, 4. A família já mudou de país três vezes e as meninas nunca deram trabalho. “Na primeira mudança, para os Estados Unidos, elas viram muitos desenhos em inglês, para treinar o ouvido. E como era verão, vivia em parquinho com elas, para estarem com outras crianças”, lembra.

Ainda assim, Daniela recorda-se de dois episódios por conta do idioma. “A Gabi um dia chegou em casa e falou que a professora contou uma história muito engraçada, e perguntei sobre o que era. Ela disse que não sabia, mas que todo mundo riu. Num outro dia perguntei à Bella: por que você não comeu o melão da lancheira? E ela respondeu que não tinha garfo e que não sabia como pedir, em inglês, à professora.”

Cidade diferente

Pode não parecer, mas mudar de cidade pode mexer com a família tanto quanto trocar de país. Claro que sem a dificuldade do idioma. Quando o bancário Edson Costa, 46, pai de Luiza, 7, mudou para o Rio de Janeiro, toda a família ficou apreensiva, pois Luiza já havia tido dificuldades em fazer amizades anteriormente. Então, como seria sair da cidade onde cresceu, ficar longe da família e dos amigos? “Para piorar, tínhamos acabado de fazer uma reforma e o quarto dela estava novo. Ela perguntava se não dava para levar o papel de parede”, lembra o pai. A família fez questão de organizar uma festa de despedida com os amigos dela, o que ajudou no processo. “O apoio que recebeu dessas pessoas queridas foi essencial. Ao chegar na cidade nova, estava mais segura para fazer amizades.”

Nesse caso, uma dica é levar a criança para conhecer a cidade nova antes da mudança e tentar contato com futuros vizinhos.

Tudo dobrado

A separação dos pais é, sem dúvida, uma das maiores mudanças que a criança pode viver: altera a rotina, o convívio com as pessoas, as regras e combinados, e ela passa a ter duas casas, sem contar o fato de não ter mais o pai e a mãe na mesma casa. A forma como o casal lida com a situação influencia muito na percepção da criança sobre o que está acontecendo. Em geral, é uma fase em que ela pode mudar de comportamento, podendo ficar mais triste, agressiva e inquieta. É comum surgirem sentimentos de abandono, culpa e insegurança. Dependendo da idade, seu filho pode não conseguir expressar bem o que está sentindo e precisar de ajuda (até profissional) para lidar com os sentimentos.

O principal aqui é manter uma rotina, fundamental para que a criança tenha segurança e se organize. Por isso, os pais devem tomar cuidado para que as regras não sejam muito diferentes nas duas casas para reduzir o estresse e os conflitos.

Foi exatamente o que fizeram a advogada Priscila Westphal, 35, e o ex-marido, na época da separação. Pais de José Augusto, 6 (que na época tinha quase 4), eles pensaram tudo em conjunto: quando e como seria a mudança de casa, como seria a rotina dele, como fariam quando ele estivesse triste. “Antes de nos separar, éramos muito unidos. Brindávamos todos os dias ‘família unida, jamais será vencida!’. Quando nos separamos, contei isso aos prantos para a pedagoga da escola, preocupada porque não seria mais assim. Ela me disse: ‘vocês continuarão sendo a família do Zé. Fiquem unidos e continuarão invencíveis’. Aquilo me aliviou porque, a partir de então, decidimos que todas as nossas decisões se baseariam nesse lema”, lembra. Essa união e o pensamento na criança são essenciais para que ela encare o processo da melhor forma, dizem os especialistas. “Mudança nunca é fácil, mas podemos fazer esforços para deixá-la mais tranquila e olhar para os anseios da criança é a melhor solução”, diz Priscila.

Se a separação não for amigável, deixe a criança longe de brigas, mantenha sempre o diálogo e faça a sua parte. Brinque junto, incentive-a a fazer um desenho, leiam juntos – momentos como esses são ótimos para que ela expresse seus sentimentos e fortaleça o vínculo com o pai e a mãe.

Outra escola

Aí está uma mudança que costuma aterrorizar os pais, seja no começo do ano letivo, no meio ou em qualquer época. Por isso, vale repetir: não passe sua ansiedade para a criança. Diga que ela fará novos amigos, que vai aprender a gostar das novas professoras e que tudo ficará bem. E tenha paciência!

Esse ingrediente, aliás, é fundamental, como foi para a professora Célia Ribas, 36, mãe de Maria Clara, 6 anos. Quando mudou de escola, há dois anos, a menina levou praticamente o ano inteiro para se adaptar. “Ela chorava muito e não queria ficar de jeito nenhum. Eu conversava, tentando mostrar que era importante ficar com os amigos.” Nos primeiros seis meses, os pais tinham de levar a filha até a sala e esperar um pouco para sair. A mãe fazia um combinado no trajeto de que ia entrar e ficar dois minutos, pois precisava trabalhar e ela tinha de aprender coisas boas na escola. “A professora dela ajudava reforçando essa mesma fala. Aos poucos, ela aceitou que eu a deixasse no pátio”, conta.

Durante todo esse processo, Maria Clara também apresentou mudanças de comportamento em casa. Tinha receio de ficar sozinha, passou a roer unha, ficou mais chorona e pedia muito colo. “Cheguei a ter problema de coluna de tanto carregá-la. Foi preciso muita conversa e calma”, diz Célia. Acolher os sentimentos que podem surgir com essa transição, como tristeza, insegurança, frustração, medo ou ansiedade é mesmo a melhor saída. Por isso, além de estar alinhado com a escola, deixe seu filho falar sobre o que está sentindo e se mostre disponível para ouvir e ajudar.

Do berço para a cama

Até essa simples transição pode agitar a rotina aí na sua casa. Isso porque aquele bebê que dormia a noite toda no berço, às vezes, resolve não ficar mais sozinho em seu quarto. Esse é mais um caso em que são necessárias doses extras de paciência. Portanto, acolha os medos e inseguranças do seu filho, mostre a ele que dormir na própria cama é motivo de comemoração, crie um ritual do sono e dê tempo ao tempo.

Mais um integrante na família

Mesmo que o seu filho tenha pedido ansiosamente por um irmão, não estranhe se a chegada do novo membro em casa mudar o comportamento do primogênito. Afinal, por mais que ele curta muito aquele bebê, pode ser difícil se acostumar a dividir tudo: brinquedos, quarto e, principalmente, a atenção dos pais, como foi o caso de Érico, 10 anos, filho do engenheiro de computação Alessandro Martins, 40. Quando a irmã Elisa, 2 anos, nasceu, ele se apaixonou por ela. Mas logo as demonstrações de ciúmes começaram a aparecer. “Ele mudou o comportamento, passando até a implicar com um amigo específico na escola, que também tinha uma irmã mais nova. Minha esposa conversou com a professora e, com o tempo, isso foi melhorando”, lembra.

Alessandro e a mulher usaram bastante diálogo e brincadeiras para amenizar as mudanças do filho – e é isso mesmo que você deve fazer caso aconteça na sua casa. Nos primeiros meses, o bebê dá muito trabalho e, se os pais não ficarem atentos, o filho mais velho pode acabar se sentindo de lado. Por isso, garantir momentos a sós com ele vai fazer com que perceba que não perdeu seu espaço e que seu lugar na vida dos pais está garantido, passando a ter mais confiança em si mesmo.

A babá mudou

Sabemos que a criança se apega às suas pessoas de referência, certo? E como lidar quando uma delas vai embora, no caso, a babá? A pequena Ellen, 6, tinha uma cuidadora bem linha-dura, mas muito carinhosa e que brincava horas com ela. Porém, a profissional deixou o emprego de forma repentina, por motivos de saúde. “Já se passou um mês e minha filha ainda não se adaptou bem à nova. Pergunta pela outra babá e, às vezes, age de maneira insegura”, conta a mãe, a professora Juscy Barreto, 37.

Em casos assim, o ideal é que, nos primeiros dias, um dos pais esteja em casa com a nova profissional, para que a criança perceba que pode confiar e se sinta segura em ficar sozinha com ela.

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